"Lugar de Memória", de Maria do Socorro Ricardo


Segundo a escritora alagoana, Maria do Socorro Ricardo, em seu mais recente trabalho literário: "Houve uma época na qual as cidades foram absolvidas no rolo compressor dos interesses dos Estados, como se a cidade, a história da cidade, não fosse importante; pois é justamente a cidade quem alimenta o Estado; desde a origem, a cidade é o ponto primordial da vida do povo, onde se relaciona nas ruas, nas feiras, no comércio, na economia, na política, nos casos amorosos, nas religiões, nas festas".
A escritora alagoana Maria do Socorro Ricardo, em leitura do primeiro capítulo de seu livro, durante encontro literário em Florianópolis: "Um país começa onde senão no município? Brasil só é Brasil por causa das diversidades e miscigenações municipais. O meu Brasil é Santana do Ipanema. Foram dos olhos de Santana que enxerguei meu País, fiz comparações, experimentos culinários, também de hábitos, de festas, de vestuário, do uso das cores, dos gostos, das músicas, das artes em geral, dos costumes políticos, da educação pública e particular, da religiosidade, e de outros aspectos cujas origens são municipais – a propaganda, a literatura, a agropecuária, o lucro".

"Santana do Ipanema vem sendo modificada, sua vida de cidade sofre ameaças porque o que teve não tem mais. O que houve com os valores simbólicos santanenses? Santana do Ipanema contemporânea perdera a oportunidade em dialogar com esta outra Santana do Ipanema iconográfica e textualizada" (MARIA DO SOCORRO RICARDO, "Diálogos com SANTANA ICONOGRÁFICA de Zabé Brincão aos nossos dias", Florianópolis, 2008).

Não é de Sto. Agostinho que a sede da alma é a memória? Na estreia com o livro "José Ricardo Sobrinho: um mágico da música", que, segundo o jornalista Agamenon Magalhães Jr., lembra o jeito de escrever de uma Raquel de Queiroz. Agora em "Diálogos com Santana iconográfica de Zabé Brincão aos nossos dias", a escritora Maria do Socorro Ricardo tem a preocupação literária em sua escritura de tratar de temas como a memória e a História. Um olhar sobre a cidade de seu tempo. Aliás, a memória – lembra Annateresa Fabris – é a vida em evolução permanente, aberta à dialética da recordação e da amnésia, suscetível de longas latências e de súbitas revitalizações. A História é a reconstrução problemática e incompleta do que não existe mais, é uma representação do passado.

"Inúmeras são as histórias na cidade. Parecem tão atrasados os livros de História adotados no ensino básico – não seria exagero acusar também os livros universitários. A História difere tanto para quem é testemunha ocular da História. Testemunhei a minha cidade vir a ser o que é. Conheci as suas pessoas, as suas histórias. Poderia realizar as minhas incursões em muitas pequenas histórias que fazem a macro-história de minha terra". (MARIA DO SOCORRO RICARDO, "Diálogos com SANTANA ICONOGRÁFICA de Zabé Brincão aos nossos dias", Florianópolis, 2008).